segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Adeus, silicone

A ciência descobre que combinar células-tronco e gordura extraídas do próprio corpo proporciona bons resultados para dar maior volume às mamas e rejuvenescer a face


Como em um passe de mágica, tirar a gordurinha que está sobrando na barriga ou no culote e usá-la para aumentar os seios de forma definitiva. Isso feito de maneira natural, sem usar nada que não seja produzido pelo próprio corpo. Mais um sonho maluco de aficionadas pela beleza? Não no que depender de uma verdadeira revolução em andamento no mundo da beleza e que pode representar o fim dos implantes das próteses de silicone. Trata-se de um novo método que usa as células-tronco – capazes de se transformar em vários tipos de tecidos do organismo – presentes na gordura para reconstituir e dar volume maior às mamas. Exatamente como o silicone, mas sem as desvantagens de ser artificial.

A novidade vem sendo testada e usada em diversos países do mundo. Na Inglaterra, por exemplo, mulheres podem ir a um consultório e, em apenas cinco horas, trocar a gordura sobressalente no abdome ou nas coxas por seios maiores. A inglesa Michelle Freeman, 42 anos, passou pelo procedimento oito meses atrás. Em vez de usar as próteses de silicone, resolveu aproveitar a gordura excedente nas coxas para garantir os dois números a mais que hoje ostenta no sutiã. “Pareceu-me a melhor opção para um resultado mais natural e com menos riscos de efeitos colaterais”, disse a inglesa à ISTOÉ. Na Áustria, o cirugião Karl-Georg Heinrich, membro das sociedades americana e europeia de cirurgia estética, faz cerca de dois procedimentos desse tipo toda semana. “Cerca de 90% das pacientes ficam satisfeitas com os resultados a longo prazo”, disse Heinrich à ISTOÉ.

A ideia de usar células-tronco para aumentar as mamas começou a ganhar fôlego quando se descobriu que o tecido adiposo (gordura) é uma fonte generosa dessas estruturas. Antes, sabia-se de sua existência em outros locais, como a medula óssea, onde a extração é complicada e a concentração é menor. A título de comparação, um grama de tecido adiposo tem cerca de 500 vezes mais células-tronco que a mesma quantidade de medula. “Muita gente pode achar ruim ter de perfurar o osso para a extração de parte da medula, mas quem vai se importar em tirar um pouco de gordura do abdome?”, brinca a pesquisadora Nance Nardi, do departamento de genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora do laboratório de células-tronco da Universidade Luterana do Brasil. Com acesso fácil à gordura – só em 2009, mais de 1,6 milhão de lipoaspirações foram feitas em todo o mundo – os profissionais da cirurgia plástica logo se interessaram pelas possibilidades do uso dessas células.

Verificou-se que elas possuem potencial para aumentar a eficácia de uma técnica já conhecida, mas cujos resultados podem deixar a desejar: a lipoenxertia, caracterizada pelo uso da gordura excedente em uma região para restaurar outras áreas do corpo. Desde 1983, com o médico alemão Franz Neuber – que publicou o primeiro trabalho sobre o assunto –, são testados meios para aprimorar o método. Isso porque sua eficiência sempre foi ameaçada pelo risco de o próprio corpo reabsorver a gordura transplantada, jogando todo o esforço no chão.

No entanto, estudos mostram que, quando é possível enriquecer o enxerto com células-tronco – ou seja, deixá-lo com uma quantidade dessas células muito maior do que a que teria normalmente –, a realocação da gordura tende a ser mais bem-sucedida. Isso ocorre porque com a grande concentração de células-tronco há a criação de vasos sanguíneos que manterão a gordura permanentemente alimentada, reduzindo a possibilidade de o enxerto ser metabolizado pelo organismo. “As células-tronco são colocadas de volta em um ambiente com o qual elas já estão habituadas, em uma função que elas já conhecem”, explica Leandra Baptista, professora de ciências biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

IstoÉ

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