segunda-feira, 13 de junho de 2011

Agulhas do bem: acupuntura segue recebendo avaliações positivas em pesquisas

Com a espessura de um fio de cabelo, as agulhas de acupuntura representam alívio para quem sofre de dores e inflamações pelo corpo. Há quem questione a eficácia da prática e a considere apenas um placebo. Porém, pesquisas internacionais confirmam que a prática tradicional da medicina chinesa, em uso há pelo menos três mil anos, também pode ser eficaz no tratamento de outros males, como câncer e infecções. Além de combater os incômodos que acompanham as terapias de doenças crônicas, ela pode ajudar, por exemplo, na recuperação das sequelas provenientes de um acidente vascular cerebral.

Não são apenas os centros de pesquisa internacionais que se debruçam sobre novas indicações da acupuntura. Estudos brasileiros já constataram que o tratamento é um importante aliado na recuperação de pacientes submetidas à cirurgia para retirada da mama e pode ter efeitos benéficos na contenção do climatério, provocado precocemente pelos remédios tomados por mulheres que fizeram mastectomia.

— A acupuntura é baseada na restauração do funcionamento neural do organismo. Ela é expert em fazer a neuromodulação de tudo que envolve o sistema nervoso central e periférico — explica o médico especialista em acupuntura Fernando Genschow, secretário-geral do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura. Formado por células que se interconectam, o sistema nervoso detecta estímulos internos e externos, desencadeando respostas musculares e glandulares. Por isso, é considerado o integrador do organismo com o meio ambiente.

Genschow lembra que, além da dor, a prática milenar responde bem aos problemas relacionados aos neurotransmissores do organismo. Como exemplo, o médico cita hipertensão arterial, transtornos do sono, síndromes do equilíbrio, asma, alergia, refluxo gástrico, síndrome do intestino irritável, prisão de ventre crônica, disfunção erétil, incontinência urinária e até mesmo a infertilidade masculina e feminina.

Nem tudo, porém, pode ser tratado com as agulhas. O hipertireoidismo, por exemplo, tem uma boa resposta porque está relacionado a uma disfunção do sistema imunológico, um dos grandes campos atuais de pesquisa da acupuntura. Já o hipotireoidismo não é neurológico, por isso não se consegue um bom efeito.
Diminuindo efeitos colaterais

No Centro Clínico da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, um novo estudo demonstrou a eficácia da acupuntura para combater a dor e o enrijecimento articulares de pacientes que sofrem de câncer de mama e são tratadas com terapia hormonal. Esses sintomas são efeitos colaterais comuns e afetam cerca de 50% das mulheres que fazem o tratamento à base de inibidores da aromatase, substâncias que bloqueiam a sintetização do estrogênio.

Também na área oncológica, um estudo do Northwestern Memorial Hospital e do Robert H. Lurie Comprehensive Cancer Center of Northwestern University, em Chicago, mostrou que a medicina integrativa, incluindo a acupuntura, melhora a qualidade de vida e diminuem as dores neuropáticas dos pacientes de câncer. Entre as principais queixas dos pacientes submetidos à quimioterapia e à radioterapia estão tensão muscular, dores, náusea e fadiga. Com as sessões de massagem e acupuntura, eles relataram melhorias em pouco tempo de tratamento.

Além do tratamento das dores físicas, a acupuntura é estudada para combater problemas de origem psiquiátrica e comportamental, como ansiedade ou compulsão alimentar.

Por dentro da acupuntura

:: No Brasil, a acupuntura é reconhecida como especialidade médica desde a década de 1980. Para receber o título, além da graduação em medicina, é preciso fazer uma residência de 5.888 horas.

:: Devido às complexidades da técnica, deve haver um diagnóstico minucioso e preciso por parte do profissional. Além do diagnóstico, é fundamental fazer o prognóstico. Dependendo do estágio da doença, pode ser necessário fazer apenas uma intervenção, ou várias. A acupuntura pode ser a primeira ou a única escolha. Um diagnóstico errado pode fazer com que uma doença mais grave, como o câncer, deixe de ser tratada, levando o paciente à morte.

:: Na China, a acupuntura não existe como uma profissão à parte. Para exercê-la, a pessoa tem de se graduar ou em medicina tradicional chinesa, um curso universitário de cinco anos, ou em medicina ocidental, que leva seis anos, e faz mais dois anos de especialização. O mesmo vale para a odontologia e médicos veterinários.

:: Procure somente profissionais credenciados. Quem não tem um treinamento exaustivo em anatomia pode lesionar nervos, perfurar órgãos ou até agravar doenças. Há também o risco de contrair infecções com agulhas contaminadas.


CADERNO VIDA ZH

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