Leitores escreveram para meu e-mail observando que meu texto recente sobre a garotinha na rodoviária era comovente. Ora, isso sim me deixou lisonjeada, foi o melhor dos elogios. A intenção era mesmo essa: tocar na sensibilidade fria desses nossos dias exageradamente materialistas.
Ao longo da vida os estados de clareza se misturam aos brutos, paixões obscuras e delirantes competem com trajetórias de serenidade, autoconhecimento e domínio de si. Momentos de sabedoria lutam com os de excesso. Ao lado da festa e da alegria, do prazer e da satisfação, do bom humor e do amor, encontramos também, oposição disso tudo, o medo e o ódio, a desordem e a morte. Ninguém se iluda, a vida é um vulcão. Aqui a lágrima entra com o seu papel. Vejamos.
Símbolo de nossa fragilidade, o choro nos afeta de maneira íntima. Busca de salvação, revela itinerários possíveis para os indivíduos que somos, plantados no coração de um universo belo, cuja eternidade escapa por todos os lados.
Chorar reorienta nosso modo de ver as coisas, reorganiza a vida. Ruptura radical com as ilusões, coragem de encarar as angústias inerentes à nossa condição humana, o choro, antes marca de sabedoria do que de tristeza, de grandeza do que de covardia, é possibilidade para nos compreendermos melhor.
Vivemos uma época que nos impõe uma "suprema felicidade", frenética, contagiante disposição para o hedonismo e diversão. O dever de ser alegre salta sobre nós a cada passo que avançamos. A pergunta séria, que infelizmente tantos evitam com toda força, é: dá para ser feliz nessa inflação de felicidade?
Vamos entender que não é necessário encarar a infelicidade como uma lepra. Aliás, assim poderemos conviver melhor com ela e, buscando ponto de equilíbrio, encontrar mais plenitude e liberdade. Adultos devem aceitar: a vida carrega a marca pesada do tédio, desamor, morte. Nem por isso deixa de ser bela.
Eu, de minha parte, sigo assim: gosto mais da legitimidade do choro do que do riso forçado. Cedo ou tarde, as lágrimas se enxugam, os olhos se abrem e a vida prossegue mais forte, coerente e lúcida.
Marina Gold
Terra
Claro que almejamos (para nós e para todos) uma "vida boa", existência em harmonia com a ordem cósmica, tanto quanto possível, justa e sábia. Essa busca é ótima, mas (e não sei se todos concordam, se todos têm maturidade para concordar) há um outro lado das coisas e dos desafios humanos, uma espécie de força da imperfeição, atrativo perturbador de caos, descontrole, indiferença e loucura. Simples assim, por mais que nos desagrade: não existe harmonia sem se levar em conta a desarmonia. Símbolo de nossa fragilidade, o choro nos afeta de maneira íntima. Busca de salvação, revela itinerários possíveis para os indivíduos que somos, plantados no coração de um universo belo, cuja eternidade escapa por todos os lados.
Chorar reorienta nosso modo de ver as coisas, reorganiza a vida. Ruptura radical com as ilusões, coragem de encarar as angústias inerentes à nossa condição humana, o choro, antes marca de sabedoria do que de tristeza, de grandeza do que de covardia, é possibilidade para nos compreendermos melhor.
Vivemos uma época que nos impõe uma "suprema felicidade", frenética, contagiante disposição para o hedonismo e diversão. O dever de ser alegre salta sobre nós a cada passo que avançamos. A pergunta séria, que infelizmente tantos evitam com toda força, é: dá para ser feliz nessa inflação de felicidade?
Vamos entender que não é necessário encarar a infelicidade como uma lepra. Aliás, assim poderemos conviver melhor com ela e, buscando ponto de equilíbrio, encontrar mais plenitude e liberdade. Adultos devem aceitar: a vida carrega a marca pesada do tédio, desamor, morte. Nem por isso deixa de ser bela.
Eu, de minha parte, sigo assim: gosto mais da legitimidade do choro do que do riso forçado. Cedo ou tarde, as lágrimas se enxugam, os olhos se abrem e a vida prossegue mais forte, coerente e lúcida.
Marina Gold
Terra
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