segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cerca de 40% das mortes por conta do fumo passivo são de crianças


Células infantis são mais sensíveis que as dos adultos



Uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgada no fim de novembro trouxe um dado preocupante: 40% dos 7,5 mil brasileiros que morrem anualmente em consequência direta do fumo passivo são crianças. Ou seja, a cada três horas, uma criança perde a vida em consequência dos cigarros de outras pessoas.


Especialistas alertam que a exposição diária ao vício de familiares pode causar o desenvolvimento de problemas respiratórios como asma e desenvolvimento mais lento dos pulmões.

O pesquisador Mattias Öberg, do Instituto Karolinska, da Suécia, autor do estudo da OMS, explica que, embora o fumo passivo seja um problema para crianças de todo o mundo, em algumas regiões a situação é pior.


-- A exposição à fumaça do cigarro é maior na Ásia e na Europa Oriental, por exemplo, onde, respectivamente, 67% e 61% das crianças têm pelo menos um dos pais fumando — contou o especialista em entrevista ao Correio. A causa é um alto índice de adultos fumantes nessas regiões.

Efeitos

O oncologista Murilo Buso explica que, independentemente da fase de desenvolvimento, o cigarro causa efeitos negativos.


— Em todas as fases da vida o cigarro causa efeitos negativos para a criança. Desde a gestação até a chegada a vida adulta, o tabaco aumenta a chance de doenças respiratórias, dificulta o desenvolvimento e aumenta as chances de morte súbita em bebês — explica o médico.


Ele conta que, ao contrário do que ocorre entre os adultos, nas crianças os efeitos do cigarro são mais rápidos.


— Eu costumo dizer que, nos adultos, o cigarro é uma bomba-relógio: não causa nenhum efeito a curto prazo, mas depois de um tempo tem o seu preço — afirma Murilo.


— Entre as crianças, porém, o efeito é imediato. Em pouco tempo, os problemas respiratórios e cardíacos podem surgir — completa o especialista.


A chefe do Programa de Controle de Tabagismo e Outros Fatores de Risco, desenvolvido no Instituto Nacional do Câncer (Inca), Tânia Cavalcante, explica que isso acontece porque as células infantis são mais sensíveis que as dos adultos.


— Além disso, as crianças têm um ritmo respiratório mais rápido que o dos adultos, por isso elas inalam mais fumaça. Como os corpo são menores, as substâncias cancerígenas acabam se acumulando nas células, o que causa um desenvolvimento mais rápido de doenças — afirma.

Exposição indireta


Para o publicitário Raphael Ohatta, 27, deixar o cigarro se tornou uma tarefa complicada.

— Na teoria, todos esses argumentos para parar de fumar são ótimos, mas na prática é muito difícil — conta o rapaz, que há três meses se tornou pai da pequena Giovanna.


— Quando ela nasceu, decidi deixar de fazer algumas coisas, levar uma vida mais responsável. Sem dúvida, o que tem sido mais difícil é o cigarro — lamenta.

Para ele, a dificuldade está associada ao convívio social com outros fumantes. A tentativa de Raphael é aprovada pela representante do Inca, Tânia Cavalcante. Ela conta que mesmo quem fuma longe dos filhos acaba prejudicando-os.

— Pesquisas mostram que várias substâncias tóxicas presentes no cigarro permanecem impregnadas em cortinas e tapetes. Então, mesmo que os pais só fumem quando os filhos não estão, mais tarde eles podem brincar naquele local e se expor a essas substâncias nocivas — completa.

Apesar dos problemas, os especialistas acreditam que a situação tende a melhorar.


— Com medidas de controle do tabaco em lugares públicos, a proibição da propaganda e as campanhas de conscientização, estamos criando uma geração livre de tabaco, que evitará que no futuro mais crianças sejam vitimadas — firma a secretária de Políticas de Controle do Tabaco da prefeitura de Florianópolis, Senen Hauss.

MALEFÍCIOS

Veja como o fumo passivo pode ser prejudicial em todas as fases da vida das crianças:
::: Na gestação
Se a mãe fuma (ativa ou passivamente) enquanto está grávida, aumenta o risco de aborto espontâneo, nascimentos prematuros e com baixo peso.

::: Recém-nascidos
Filhos de pais fumantes têm uma probabilidade maior de desnvolver problemas respiratórios e maior índice de mortes súbitas.

::: Crianças
Pesquisas mostram que idas ao hospital são mais frequentes em crianças que convivem com o cigarro. Além de uma maior frequência de asma, amigdalite e bronquite.

::: Adolescentes
Jovens fumantes passivos têm uma facilidade maior para desenvolver o vício pelo cigarro. Tanto em decorrência do ambiente em que vivem quanto pela contínua exposição à nicotina.

CORREIO BRAZILIENSE

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