sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Convidar os amigos para fazer cerveja só não é melhor que reuni-los para provar o resultado
Diz-se que fazer cerveja está mais perto de ser uma arte do que uma ciência. Moer o malte, misturar o lúpulo, acrescentar fermento. Aquecer, filtrar, ferver, resfriar, maturar, envasar. O ritual cuidadoso, que exige tempo e precisão, só termina semanas depois, quando a bebida passa pela melhor parte: o paladar.

É o que grupos de amigos estão fazendo em casa. Em Florianópolis, marmanjos com gosto apurado para a cerveja arregaçaram as mangas e invadiram garagens e cozinhas da família para testar os experimentos. Entre as cervejas da Ilha estão a Avatar, Itacorubier, Sambaqui, Traíra, Bruxa e Faixa Preta. Também há chopes da Craft Bier e da Moçambique.


Quase todas estão disponíveis apenas para degustação. Com poucos ingredientes, é possível criar uma grande diversidade da bebida, variando apenas o tempo e a forma de produzir. Com paciência, panelas e um pouco de improviso, você pode fazer, como eles, a sua própria cerveja. Segundo o sócio-fundador da Associação dos Cervejeiros Artesanais (ACervA), em SC, Max Prujansky, 36 anos, 50% dos membros da entidade são da Grande Florianópolis. Os outros estão espalhados por cidades como Joinville, Blumenau, Jaraguá do Sul e Criciúma.



Quando o carioca Max está de folga do trabalho, dedica-se ao hobby que pratica há cinco anos. Ele até dá cursos sobre o tema. Entre um tentativa e outra, ele criou a Traíra (nome que faz alusão a uma brincadeira de amigos).


— Hoje, temos vários rótulos. Mas quem faz cerveja, geralmente, está procurando sabores diferentes. Em casa, você pode temperá-la como quiser — conta Max (foto abaixo), que adora acrescentar limão siciliano e noz moscada às receitas.



O cervejeiro garante que só teve de jogar todo o líquido fora uma única vez, logo quando começou a fazer a bebida. Ele diz que é raro a experiência dar errado, a não ser que haja contaminação (por falta de higiene ou porque a bebida entrou em contato com ar).

Os instrumentos de Max foram comprados ou ajustados por ele mesmo. O kit resume-se a dois panelões, um moinho de malte improvisado - conectado a uma furadeira para evitar o trabalho manual - termômetro, balança digital, chiller em cobre (para fazer o resfriamento), um galão de água que faz o papel de fermentador e mais meia dúzia de colheres, caninhos e mangueiras.

A brincadeira custa entre R$ 800 eR$ 1 mil. Lembre-se que você também precisa comprar o essencial: a matéria-prima. Além de água, a cerveja exige malte, lúpulo, fermento e, se quiser, cereais (que darão sabor e aroma). A maioria dos cervejeiros de Floripa compra os insumos em Porto Alegre. As cervejas caseiras não têm licença de venda. Logo, para provar caseiras como a Traíra é preciso pegar uma noite de degustação na Academia da Cerveja, bar no Bairro Trindade.

Virando negócio

Leveza é a principal característica do chope da Craft Bier, que está se profissionalizando. A bebida foi criada a partir da receita do advogado José Cândido de Borba Neto (Zeca, foto acima), de Florianópolis. Pilsen, ela segue a Lei de Pureza alemã, promulgada em 1516 e que determina que uma cerveja deveria ser produzida apenas com água, malte e lúpulo. O fermento foi incluído na lei algum tempo depois.

A produção é terceirizada, e a bebida é distribuída em cinco pontos de venda da Capital e na loja do próprio Zeca, o Empório Sweet Home.

— Qualquer um pode bebê-lo e gostar do sabor sem, necessariamente, ser um apreciador — explica Zeca, que aprovou o chope já na segunda tentativa de produção de seu mestre-cervejeiro.

Ficou curioso? A bebida pode ser degustada no empório, que tem uma área de cafeteria e um deck externo. Quem não quiser levar a chopeira, pode optar por uma garrafa especial. O empório ainda oferece cursos para quem quer aprender a fazer cerveja artesanal. Há também orientação para garçons que precisam conhecer a carta de bebidas para atender melhor a clientela.

Direto da garagem

Um bairro de Florianópolis deu o nome à cerveja criada por Filipe Costa, 34 anos. Robusta e saborosa, a Sambaqui é feita a cada 15 dias nos fundos da casa do rapaz.

— O legal é ficar inventando receitas. Você vai jogando os ingredientes na panela e fazendo teste — diz o rapaz, que aprendeu a técnica com um amigo, em 2007.


A Sambaqui começou a ser produzida com instrumentos parecidos com o de Max. Com o tempo, Filipe foi aperfeiçoando seu "laboratório". Hoje, no lugar das velhas panelas, estão enormes tonéis interligados. Dezenas de barris armazenam o líquido em diversas geladeiras com termostato.

Filipe garante já ter desembolsado R$ 3 mil só em panela e "trocado" um carro por malte. Atualmente, são feitos 100 a 150 litros de cerveja por vez. O mais difícil é aguentar sem tomar a bebida até ela ficar pronta, já que é preciso tempo para fermentar e maturar.

— Uma de baixo teor alcóolico pode ficar pronta em 17 dias, mas a de alto teor leva até quatro meses — diz ele.


A marca pode ser provada em dois projetos. O Sambaqui Convida é um evento cultural que acontece nas quatro estações do ano. Com intervenções artísticas, reúne cervejeiros caseiros e artesanais. Já o Sambaqui Harmoniza é um jantar para dez pessoas voltado à degustação de comidas elaboradas de acordo com cada tipo de cerveja. Os pratos são preparados por um chef e a culinária varia a cada encontro. Quer saber mais? cervejasambaqui.blogspot.com.



REVISTA DE VERÃO DO CLICRBS

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