sábado, 17 de setembro de 2011

Confira a evolução da lingerie do pudor à sensualidade

A peça íntima feminina atualmente é símbolo de sensualidade

A lingerie passou por diversas modificações, de acordo com os momentos históricos, sociais e comportamentais. A peça que surgiu como vestimenta para cobrir o corpo, por pudor, se tornou um elemento fundamental para a mulher sensual contemporânea  Foto: Getty Images
A moda está longe de ser linear, as tendências surgem, desaparecem e ressurgem de acordo com o contexto social, histórico e comportamental de cada época. Com a lingerie feminina não foi diferente. As vestimentas se adequaram, ao longo da história, à necessidade das mulheres. Quando a moda ditava seios pequenos, as bandagens cuidavam de pressioná-los, quando a cintura precisava ser fina, os espartilhos faziam o trabalho de espremer as costelas e afinar a silhueta. E para quem tem horror a uma barriguinha, saiba que ela também já esteve na moda. "Na Idade Média, as mulheres usavam enchimento por baixo das roupas para manter o ventre saliente e arredondado", lembra a professora de moda do Senac, Débora Caramaschi.
Segundo a professora de moda Débora Caramaschi, o primeiro registro de preocupação da mulher em cobrir o seio acontece entre os séculos 3 e 4 antes de Cristo. Nesta foto, Helena de Tróia usa uma túnica em 1.100 A.C  Foto: Getty Images

A história da lingerie se confunde com a da roupa íntima feminina. Segundo Débora, o primeiro registro de preocupação da mulher em cobrir o seio acontece entre os séculos 3 e 4 antes de Cristo, quando elas usam tecidos em forma de bandagem e túnicas até os tornozelos. A coordenadora do curso de design de moda da Faculdade Belas Artes, Valeska Nakad, afirma que na civilização de Creta, na Grécia, por volta de 2.000 e 1.400 a.C apareceu um corpete simples que projetava os seios. "Era inspirado no ideal de beleza feminino da época, a Deusa das Serpentes", disse.

Na Idade Média, entre os séculos 5 e 15, surgiu uma túnica com cordões, segundo Valeska Nakad. Também existia um corpete que era amarrado nas laterais ou nas costas e costurado à saia, chamado de Bliaud. Ainda havia o soquerie, uma cota muito justa conhecida como guarda-corpo  Foto: Getty Images

Na Idade Média, entre os séculos 5 e 15, surgiu a cota, uma túnica com cordões, considerada o ancestral do corset, disse Valeska. Segundo a coordenadora, também existia um corpete que era amarrado nas laterais ou nas costas e costurado à saia, conhecido como bliaud. "Ainda havia o soquerie, uma cota muito justa conhecida como guarda-corpo", citou.


No período da Baixa Idade Média, entre os séculos 5 e 10, o ventre saliente e arredondado, combinado a seios e quadris pequenos, compunham a beleza da mulher. "Elas usavam enchimento por baixo da roupa para aumentar o ventre e bandagens para pressionar os seios", afirmou a professora de moda Debora Caramaschi. De acordo com a professora de história da moda na universidade Santa Marcelina, Miti Shitara, o período foi marcado pela "silhueta gótica" - seios pequenos e ombros caídos.


Espartilho: mulheres com 40 cm de cintura

A chegada do Renascimento na Europa, no século 14, trouxe de volta a ideia da feminilidade. "Seios grandes, quadris largos e cintura fina", descreveu Miti. Segundo ela, os corsets começaram a ser usados no século 16, com o intuito de afinar a silhueta e pressionar a parte inferior dos seios, para que eles se projetassem ao decote. "A cintura ideal na época era de 40 cm a 45 cm de diâmetro", disse a especialista.


O espartilho se espalhou pela Europa no século 16, segundo Miti Shitara. A cintura ideal na época era de 40 cm a 45 cm de diâmetro, disse ela. A rainha Elizabeth usou o traje em 1580   Foto: Getty Images
"Até então, os vestidos tinham armação de crinolina (crina de cavalo) que eram maleáveis, mas os saiotes começaram a ganhar suporte de metal e a mulher não conseguia mais movimentar a saia da forma que queria", explicou Miti. Com isso, conforme ela andava e precisava passar por determinados lugares, levantava a saia, deixando as partes íntimas à mostra.
Até 1820, as mulheres usavam vestidos com armação de crinolina, no entanto, esta armação começou a ser feita de metal. Segundo Miti, a saia já não ficava tão maleável e as mulheres precisavam levantá-la para passar por determinados lugares, quando apareciam as pernas. Por conta disso, elas adotaram o uso das calças masculinas  Foto: Getty Images

É neste cenário que as mulheres adotam o uso da "calcinha". "Em 1820, elas começaram a usar as calças dos homens na parte de baixo", explicou a professora Débora. Mas o modelo está distante do contemporâneo. Segundo Miti Shitara, a peça íntima era até os tornozelos, de amarrar e tinha uma fenda entre as pernas.



A "calcinha" era usada por baixo do corset. "A fenda servia para facilitar as necessidades fisiológicas da mulher, pois ela não podia tirar a roupa toda vez que fosse ao banheiro", detalhou Débora. Segundo ela, as damas ficavam com a mesma calça íntima de três semanas a três meses.

As calças usadas a partir de 1820 iam até o tornozelo,eram amarradas à cintura sob o corset. A vestimenta tinha uma fenda entre as pernas para facilitar quando a mulher fosse ao banheiro, segundo Débora Caramaschi. A calça podia durar de três semanas a três meses, disse ela    Foto: Getty Images
A vestimenta até os tornozelos e o corset continuaram como a lingerie feminina durante toda o período da Belle Époque, que tem início por volta de 1880 até a chegada da Primeira Guerra Mundial, em 1914. "Os vestidos ganharam apenas uma armação levantada na parte de trás, a anquinha", disse Miti.


Guerra encurta a lingerie
Em 1908, o estilista francês Paul Poiret propôs o fim do uso dos corsets e destacou a importância do conforto  Foto: Jack Cole/Divulgação

Em 1908, o estilista francês Paul Poiret propôs o fim do uso do espartilho. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), as mulheres precisaram abandonar os vestidos pesados e substituíram o espartilho por chemisettes - camisas usadas sob os trajes. "Aconteceu a simplificação das roupas", disse Miti. Após o conflito, o público feminino ganhou liberdade, as calças ficaram mais curtas, foram enfeitadas com rendas e passa fitas, segundo a professora.

O sutiã existia como um bustiê que dividia os seios desde o século 20, mas só foi patenteado em 1914 pela norte-americana Mary Phelps, afirmou Miti Shitara  Foto: Getty Images

"O sutiã existia como um bustiê que dividia os seios desde o século 20, mas só foi patenteado em 1914 pela norte-americana Mary Phelps", afirmou Miti. Nesta época, a moda sofreu uma revolução com a chegada do estilista Gabrielle Chanel. De acordo com Miti, as calcinhas se tornaram um shortinho com rendas e perderam a fenda entre as pernas. "Foi a primeira vez que as mulheres mostraram as pernas até os joelhos", lembrou Débora.
Entre as décadas de 1940 e 1950, o sutiã ficou mais anatômico e ganhou o bojo, segundo Miti Shitara  Foto: Getty Images

Entre as décadas de 1940 e 1950, o sutiã ficou mais anatômico e recebeu o bojo; já as calcinhas ficaram como o é conhecida atualmente as calçolas, usadas pelo público da terceira idade. "Em 1950, os modelos de calcinhas começaram a acompanhar as tendências beach wear", disse Miti. Segundo a professora de história da moda, em 1970 surgiu o modelo tanga e, em 1980, o fio dental.


Lingerie e a erotização


O movimento das pin-ups, na década de 1950, contribuiu para tornar a lingerie um objeto sexy, de acordo com Débora. Em 1960, a beleza estava em corpos franzinos e sem curvas, como o da modelo Twiggy. Na década seguinte, teve início a cultura do físico sarado e da prática de exercícios, que impulsionou o desejo de mostrar músculos e curvas.

Em 1980 surgiu a calcinha fio dental, segundo Miti. Daí por diante o guarda-roupas de peças íntimas da mulher só ganhou variedade de modelos, com tamanhos e cores diferentes  Foto: Getty Images
"Em 1980, a lingerie passou a ser vista como objeto erótico, pensada em vestimenta para ser mostrada", afirmou Miti. O cenário de "mulher independente e emancipada" da época deu liberdade ao público feminino para seduzir. "De manhã ela é a executiva e à noite sai para caçar seu homem", brincou Miti Shitara.


Segundo Débora, o século 20 é marcado pela revolução da peça íntima feminina e do comportamento das mulheres. "Surgiram a lingerie dia, noite, a sexy e a casual", enumerou a coordenadora do curso de moda da Faculdade Belas Artes, Valeska Nakad . Ela destacou o avanço da tecnologia e materiais usados no desenvolvimento dos produtos. "A palavra lingerie passou a ser utilizada em larga escala como referência de roupa íntima sexy". Daí por diante, os modelos ficaram cada vez menores, mais criativos e variados.




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