segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Brasil prepara plano nacional contra doenças crônicas
Objetivo é reduzir em 2% ao ano as mortes por câncer, diabetes e doenças cardíacas e respiratórias

Na próxima semana o Brasil deve fechar as propostas de um plano nacional de enfrentamento para um grupo de doenças que, sozinho, é responsável por 63% das mortes do planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).


Conheça os números mundiais


Baseado em ações cujo foco é estimular a mudança de hábitos da população, o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis quer estimular os brasileiros a comer melhor e a praticar atividades físicas. A meta do governo é reduzir a taxa de mortalidade prematura (menos de 70 anos) por essas enfermidades em 2% ao ano.


No Brasil as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) – sendo as principais o câncer, o diabetes e as doenças cardiovasculares e respiratórias – correspondem a 72% dos óbitos anuais, atingindo especialmente as camadas da população de mais baixa renda e escolaridade. São doenças, dizem os especialistas, em sua maioria causadas por fatores de risco diretamente ligados ao desenvolvimento: aumento da renda, sedentarismo e dietas calóricas ricas em sal e gorduras.


Em entrevista exclusiva ao iG o ministro da Saúde Alexandre Padilha admite que as ações propostas são difíceis de serem concretizadas, pois dependem, em grande parte, de mudanças de comportamento individuais.


“Apostamos muito na parceria com a educação, no espaço da escola para promover essas mudanças. A merenda escolar tem de ser uma promotora de hábitos saudáveis. A escola tem de estimular a atividade física”, disse o ministro.


Mais participação


Na avaliação da presidente do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), Rosane Nascimento da Silva, as iniciativas não podem se restringir a um só ministério ou ação pública. Ela lembra que todo processo de mudanças precisa de medidas regulatórias e legislativas, mas considera o apelo da publicidade o mais importante nesse momento.


“Sentir-se parte desse movimento é que é difícil. Por isso, as campanhas por uma alimentação mais saudável não podem durar um mês. As ações devem ser sistemáticas”, ressalta.


 A presidente do CFN lembra que as parcerias com o setor produtivo – para reduzir, por exemplo, a quantidade de sal, gordura e açúcar dos alimentos – também são fundamentais.


“Avançamos em termos de princípios e diretrizes, agora precisamos ir às ruas. O próprio consumidor precisa pressionar as estruturas para que as mudanças aconteçam”, defende.


A construção de equipamentos para realização de atividade física próximos às unidades de saúde é outra aposta forte do ministério para promover hábitos saudáveis. No Programa Academias da Saúde, os municípios receberão mais recursos para construir novas estruturas e contratar profissionais de educação física, fisioterapeutas e agentes de educação para estimular os pacientes a fazer atividade física. Nos projetos-piloto, segundo Alexandre Padilha, houve redução de 50% no uso de antidepressivos, 50% no uso de antiinflamatórios e aumento no controle de hipertensão e de diabetes.





O presidente do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), Jorge Steinhilber, encara com ceticismo as propostas e metas previstas no documento. Para ele, fomentar a prática de atividades exercícios a partir de uma premissa de combate a doenças não é a melhor abordagem para conseguir a adesão da população.


“A Política Nacional de Promoção da Saúde foi criada em 2006 e mal saiu do papel. O governo precisa se propor a enfrentar o tema como se propôs a enfrentar a fome no início do governo Lula. E para isso é preciso investimentos e ações coordenadas entre todos os ministérios” critica.


Problema comum


A preocupação com o impacto futuro de tantas mortes precoces entre a população economicamente ativa não é uma exclusividade brasileira. Em setembro, em Nova York, pela terceira vez na História, saúde será o tema central de uma assembléia nas Nações Unidas conhecida como High Level Meeting (reunião de alto nível, em tradução livre) cujo objetivo é combater uma doença (neste caso um grupo de doenças) em escala planetária.


Assim como foi feito com a pólio (conhecida como paralisia infantil) nos anos 80, e com a aids, na última década, ministros e chefes de estado de todos os países membros da entidade apresentarão as propostas de cada nação para conter o avanço das doenças crônicas não transmissíveis.


O esforço mundial foi fomentado pelos recentes alertas da OMS para o aumento na incidência das DCNTs em todo o mundo e pelas estimativas dos especialistas em economia e demografia sobre a influência desse grupo de doenças na redução do Produto Interno Bruto (PIB) mundial – alguns estimam que elas poderão inclusive atrasar o desenvolvimento de países como o Brasil, a China e a Índia.


AS METAS


Reduzir as mortes prematuras (menos de 70 anos) por DCNTs em 2% ao ano
Diminuir a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes
Deter o crescimento da obesidade em adultos
Reduzir as prevalências de consumo nocivo de álcool e do tabagismo em adultos
Aumentar a prevalência de atividade física no lazer
Ampliar o consumo de frutas e hortaliças e reduzir o consumo médio de sal
Aumentar a cobertura de mamografia em mulheres entre 50 e 69 anos
Ampliar a cobertura de exame preventivo de câncer de colo do útero em mulheres de 25 a 59 anos
ratar 100% de mulheres com diagnóstico de lesões precursoras de câncer


CONHEÇA AS PRINCIPAIS AÇÕES DO PLANO


Atividade física: construir espaços que estimulem a prática de atividade físicas nas cidades, reformular espaços nas escolas para ampliar a prática educação física, incentivar a prática de atividade física fora do turno de estudo, construir e reativar ciclovias, parques, praças e pistas de caminhadas e realizar mais campanhas de conscientização sobre o tema.


Alimentação saudável: garantir o fornecimento de alimentos saudáveis no Programa Nacional de Alimentação Escolar, estabelecer parcerias para o aumento da produção e da oferta de frutas e hortaliças, fomentar a adoção de medidas fiscais para aumentar a produção e baratear os preços de alimentos saudáveis e negociar com as indústrias alimentícias a redução de sal, gorduras e açúcar nos alimentos industrializados.


Álcool e cigarro: adequar a legislação nacional que regula o fumo em recintos coletivos, ampliar as ações de prevenção e de cessação do tabagismo (com atenção especial para jovens, mulheres e população de menor renda e escolaridade), aumentar os impostos sobre os dois produtos, ampliar a fiscalização e a punição quem vende álcool a menores de 18 anos.


Envelhecimento: ampliar ações de incentivo aos idosos para a prática da atividade física regular no programa Academia da Saúde, capacitar profissionais de saúde para atender idosos e pessoas com condições crônicas, campanhas para incentivar o autocuidado e o uso racional de medicamentos e criar programas para formação do cuidadores de idosos e doentes crônicos na comunidade.


Cuidado integral: melhorar o rastreamento do câncer do colo do útero e garantir 100% de acesso ao tratamento, tornar mais rápido e eficaz o cuidado ao paciente com doenças circulatórias na rede de urgência, criar estruturas hospitalares específicas para tratar acidente vascular cerebral (AVC) e infarto, evitando espera nas portas dos hospitais.


FONTE: Ministério da Saúde

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