sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dietas à base de gorduras aumentam índices de radicais livres no organismo

Radicais livres estão associados à obesidade


Um estudo realizado pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) detectou que a gordura na dieta é a principal responsável pelos altos índice de radicais livres presentes no organismo. O biólogo Ariel R. Cardoso, um dos autores da pesquisa, explica que o experimento comprovou que camundongos expostos à uma dieta rica em gordura apresentaram aumento na geração de radicais livres e também uma maior atividade dos canais de potássio das mitocôndrias do fígado.


— Ao entendermos quais são as fontes geradoras de radicais livres dentro, poderemos oferecer ferramentas para outros pesquisadores desenvolverem fármacos para tratar patologias ligadas a obesidade — destaca.


Os dados estão no artigo "Effects of a high fat diet on liver mitochondria: increased ATP-sensitive K+ channel activity and reactive oxygen species generation", publicado na edição do último mês de junho do Journal of Bioenergetics and Biomembranes. A ideia da pesquisa era estudar a participação das mitocôndrias nas doenças relacionadas à obesidade.


A mitocôndria é a parte da célula responsável por transformar as proteínas, os carboidratos e as gorduras dos alimentos em uma forma de energia que a célula irá utilizar para manter seu funcionamento. Durante este processo, pode ocorrer a geração de radicais livres, moléculas que estão envolvidas em vários processos vitais, como na defesa contra microorganismos invasores e como mensageiros em processos celulares, mas também estão associados a várias patologias e ao envelhecimento.




Cardoso explica que a obesidade está associada com a ocorrência de esteatose hepática não-alcóolica, uma doença que afeta cerca de 70% das pessoas com obesidade. Ela é caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado, levando a uma série de problemas como a perda de funções hepáticas, aumento do estresse oxidativo e a geração de radicais livres.


A esteatose está associada com a Síndrome Metabólica que inclui alterações nos níveis de colesterol e triglicérides (dislipidemias), resistência a insulina e diabetes tipo 2, aumentando assim o risco de ocorrência de doenças cardiovasculares e neurológicas. A esteatose pode evoluir e levar a um quadro de cirrose e até de tumores.


Obesidade


Os testes foram realizados com camundongos que receberam uma dieta hiperlipídica a base de óleo de soja. Os animais foram alimentados por um período que variou de dois meses até cerca de dez meses, sendo que alguns foram alimentados com a dieta hiperlipídica durante um ano e meio.


— Uma dieta normal leva 4% de gordura. Na dieta que oferecemos aos animais, o teor de gordura era de 55% — compara o pesquisador.




— O peso médio de um camundongo é de aproximadamente 40 gramas; alguns dos animais do nosso experimento chegaram a pesar 120 gramas — completa.


O biólogo explica que a dieta hiperlipídica faz o fígado acumular muita gordura, mas ela pode não ficar restrita neste órgão. Então esses lipídios vão sendo oxidados através da beta oxidação. As enzimas ligadas a este processo acabam sendo mais expressas na esteatose hepática como um mecanismo compensatório para oxidar essa gordura excedente.


— É um ciclo vicioso. O excesso de gordura no fígado leva a um processo de beta oxidação que gera mais radicais livres. Isso pode contribuir para um aumento da esteatose, visto que os radicais livres podem lesar proteínas, lipídios e até mesmo o DNA da célula — aponta.




Os testes também mostraram que as mitocôndrias do fígado dos camundongos que receberam dieta hiperlipídica tiveram um aumento de atividade dos canais de potássio.


— A mitocôndria tem duas membranas e com a dieta rica em gordura a membrana interna apresentou maior transporte de potássio — conta Cardoso.




AGÊNCIA USP DE NOTÍCIAS

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